comunicação

sábado, 24 de julho de 2010

Para não dizer que não falei de flores...

Bauman, um conhecido sociólogo da atualidade tem uma maneira interessante de descrever o que é o mal. Para ele, mal é tudo aquilo que está fora de nossa compreensão. Não me canso de repetir essa definição, pois, claro, percebo-a genial em sua simplicidade, mas também por observar isso tão claramente em vários contextos, tanto pessoais como públicos. Em notícias de escolas e principalmente na mídia televisiva. Passei a observar de que forma se lida com aquilo que se considera mal e, em alguns momentos me surpreendi com o que me parece uma nutrição dessa idéia (do mal/mau), por parte das histórias criadas na mídia, numa tentativa de imitar a realidade. As invenções mais fortes, relativas a uma imagem do inimigo, estão nas novelas, segundo observo. Depois vem os filmes. Há o que eu chamaria de idéia subjacente, nessas criações, que parece transmitir uma mensagem de que pessoas são inerentemente más. E mais: que as pessoas nascem más e, durante toda sua vida passam semeando, com todas as ferramentas que possuírem e alcançarem, um caminho de maldades e abominações. As novelas e filmes parecem não se cansar de explorar a dualidade bem e mal, bandido e mocinho. Dada minha reflexão, trago à tona minha preocupação maior em observar tudo isso: como ver flores desabrochar num solo onde se joga ácido? Para mim, o solo é a alma humana. Que temos plantado em nossas almas? Acho que se torna ainda mais preocupante minha reflexão quando me dou conta de que esse plantio vem de uma necessidade de diversão. Isso significa que, após um ou vários dias de desgastante trabalho o solo-alma humana está sedento e quer água, mas recebe ácido. Nosso solo é resistente e sábio e lida, com tudo o que pode para não permitir muitos danos à nossa saúde. Porém, disso resulta o hábito. O corpo e a alma se acostumam com o ácido. Assim como o corpo é obediente e permite que tabaco, álcool e muitas outras drogas lhe invadam, igualmente a alma passa a suportar as drogas que nela investimos. Daí ocorre que, de tão embriagados estamos nessa viagem que não percebemos, mas passamos a transbordar ácido e ver em solos alheios aquilo de estamos completamente tomados. Crianças e adultos. Todos repetindo incansavelmente a historinha do mocinho e bandido. Quem tem e cuida de alguma planta, ou, em algum momento já cuidou sabe do que eu estou falando. A planta não precisa somente de ‘goles d’água’ regulares. Ela precisa de um tipo de energia que a motive a florescer. Assim somos também. Podemos substituir nossa água por ácido e por muitos e muitos tempos sobreviver. Mas, flores não poderão desabrochar em nossa alma. É um pouco disso que a Comunicação Não-Violenta fala: não apenas das palavras, não apenas do que falar, mas muito, muito, além disso. A CNV quer cultivar aquela energia que permite desabrochar flores. Ela quer nos relembrar de como vitaminar nossa água com aquilo que nos permite ir além do bem e do mal, dos mocinhos e dos bandidos. Por isso é que encanta tanto. É por isso que fico cada vez mais, encantada com os efeitos adubadores que ela possui em mim e nos que vejo aplicando-a.

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