
Estive pesquisando algumas ONG's e seus objetivos nesses últimos dias. Pesquisei particularmente aquelas que se propõem a atigingir um objetivo pacífico.
Vi o quanto é fácil cair nas graças do antigo paradigma, sem que nos demos conta. Qual é o 'antigo paradigma'? Aquele que nos separa, que nos divide e nos afasta e torna mais difícil atingir os próprios objetivos de maior paz e união. Se somos todos humanos, contra quem devemos lutar? E mais, como lutar e obter paz??!
Mas não raro, lê-se em objetivos de ONG's ditas buscadoras da paz: "Lutar pela redução da violência no Brasil".
Alguém pode pensar: "Ai, mas é só uma maneira de se expressar!" Isso mesmo. Aí é que está toda a raiz da intenção, na maneira de se expressar.
Na Bíblia há uma passagem da qual eu gosto muito. Não tenho certeza agora de em qual livro ela está contida, mas me arrisco a dizer que é em Provérbios. Me perdoem se não o for. Enfim, essa passagem diz o seguinte (se não forem exatamente essas palavras, ao menos me asseguro de que é esse o sentido):
"Transborda pela boca aquilo de que o coração está cheio."
Ou seja, quando falamos algo, quer tenhamos consciência ou não do que estamos falando, nossas palavras traduzem nossos valores e os princípios que direcionam nossas atitudes. A idéia que me parece subentendida na frase "Lutar pela redução da violência no Brasil", é a de que qualquer coisa será feita para se chegar à paz. Mas o que parece não estar tão claro é que talvez, até a violência seja razoável para se chegar até essa dita 'paz'.
E aí está a contradição. Penso sim, que, inicialmente, as pessoas não estejam cientes de que estão dispostas a lançar mão da violência para se chegar até a paz. Mas mesmo que não estiverem, quando se atentar às palavras que se usa para trilhar esse caminho para a paz, saberão que tipo de intenção existe em seus corações (mesmo que seja duro admitir para si, inicialmente).
E esse é o foco tão sutil e subjetivo da comunicação - ou que, pelo menos, transparece através da comunicação - sobre o qual tento explanar.
Marshall diz em seu livro, que "usamos a presença do outro como se fosse uma lata de lixo, na qual jogamos nossas palavras."
A inconsciência e a desconexão de nossas intenções ao articularmos nossas palavras: eis onde reside o perigo. Como conseguir compreensão quando nem nós mesmos temos claro aquilo que desejamos comunicar? Quando não existe essa clareza intencional acerca de nossas palvras vamos para qualquer direção e, consequentemente, vamos para qualquer lugar. Não é fácil, iniciar uma conversa 'lutando' por mais justiça e terminar brigando e se achando ainda mais injustiçado e num assunto totalmente diferente daquele inicial?
Penso que, em muitas situações, temos usado nossas palavras de maneira semelhante àquela que ouvimos de outras pessoas. Então, mesmo que não estejam muito claras em seu sentido, repetimos o que ainda não não apreendemos totalmente.
E o que acontece depois? Quando se vê, caiu-se na mesma rede. Lá está a violência novamente. "Defender nossos direitos", "exigir que respeitem", "impor..."... todas expressões alienadas de nossas necessidades de paz não atendidas.
Mas ainda não existe, até onde sei, uma ONG que busque repensar os paradigmas de nossa comunicação (forma de utilizar palavras) e do quanto ela contribui para permanecermos alienados de nossas necessidades. Que nos abra os olhos para a essencialidade daquilo que comunicamos em palavras, gestos ou silêncios.
Uma que me pareceu muito alinhada com a questão da não-violência é o Greenpeace. Em sua forma de trabalho deixam claro que não precisam 'lutar contra' nada e nem ninguém, se o que quer é a paz. Utilizam verbos como 'denunciar', 'investigar', 'propor soluções'. Não quero aqui fazer propaganda ou coisa que o valha, mas lembrar da importância do alinhamento entre palavras e intenção.
Essa clareza só chega até às palavras num espaço de auto-conhecimento e respeito pela vida.
E assim, faço de mim uma 'ONG pessoal' a qual tento manter atualizada e coerente - entre valores, princípios e forma de agir, se expressar - para que meu trabalho seja sempre a favor da paz!
Ótima semana a todos.
Eu gostei muito. To lendo cada vez maturidade nos teus posts - com que quero dizer que fico me sentindo na compania de alguém cujo pensamento me conhece e me convida a me conhecer mais e de formas que me acrescentam, que fala para mim. Sensação de chão, de satisfação, por atender minha necessidade de aprender, me expandir, ter companhia no meu caminho de aprender.
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